quarta-feira, 13 de maio de 2009

O Carnaval/Entrudo integrado no Projecto “A Minha Aldeia - Tradições”


Resultado das entrevistas aos avós

No decorrer deste período do Carnaval, as crianças levaram para casa uma Entrevista para os avós, que consistia em descobrir como era vivido pelos avós/bisavós o Carnaval antigamente, para assim o podermos vivenciar no espaço pedagógico.

Uma das respostas mais comuns foi que, como havia pouco dinheiro, as pessoas divertiam-se a pregar partidas umas às outras e sobretudo aos vizinhos, fazendo as chamadas Partidas de Carnaval.

“PARTIDAS DE CARNAVAL” – termo utilizado na altura para caracterizar as brincadeiras que se faziam durante o período do CARNAVAL/ENTRUDO, houve uma avó que disse que nessa época todas as brincadeiras eram permitidas, eram outros tempos!

PARTIDAS DE CARNAVAL

O que se fazia?

Bater às portas e fugir;

Fazer espantalhos e colocar atrás das portas, ou nas entradas das casas;

Colocar arruda (planta com cheiro muito intenso) ou cacos velhos nas entradas das casas ou nas escadas;

Trocar vasos de flores que estavam em varandas/escadas com os dos vizinhos.

Esconder objectos às pessoas mais velhos, como: vassouras, utensílios agrícolas. etc. ;

Como se vestiam?

Para “jogar ao Entrudo”, termo que era utilizado na altura, vestiam roupas velhas e rasgadas, lençóis velhos, fatos de macaco, qualquer trapo ou roupa que já não se usava, servia para os Entrudos se vestirem.

Na cabeça colocavam lenços ou chapéus, e o rosto era tapado com panos. Também pintavam a cara e as mãos com carvão para não serem reconhecidos, geralmente, as raparigas vestiam-se de rapazes e os rapazes vestiam-se de raparigas e formavam “ranchos”, com o objectivo de fazer partidas.

Também, neste período, sobretudo na terça-feira de Carnaval, era hábito as mulheres vestirem um fato de gandareza, e os homens um fato de campino. O fato de gandareza era composto por:

Saia preta rodada (curta ou comprida), com uma barra, geralmente enfeitada a gosto, utilizando-se fitas, espiguilhos, lantejoulas, veludos, cetim, etc., para o efeito. Sobre a saia era colocado um pequeno avental.

Vestiam também blusa branca e cachené aos ombros, e na cabeça usavam um lenço regional de franja e sobre o lenço um “caneco”, ou seja um pequeno chapéu preto, redondo, geralmente de veludo, que também podia ser enfeitado a gosto.

Usavam meia branca rendada até ao joelho e nos pés uns tamancos pretos.

Os homens usavam calça preta comprida ou curta, faixa vermelha à cintura e camisa branca. Nos pés usavam tamancos e calçavam meia branca rendada. Na cabeça um barrete de campino ou chapéu de aba larga.

Havia também quem vestisse fatos regionais (pescadores da Nazaré, campinos de Santarém, etc.).

As pessoas juntavam-se formando grupos, a que denominavam de “ranchos”, e percorriam a aldeia e os lugares próximos, levando merendas, para no final conviverem em grupo.

COMO REVIVEMOS ESTA TRADIÇÃO NO JARDIM DE INFÂNCIA?

Após a recolha efectuada, os familiares organizaram-se no sentido de enviarem os seus educandos trajados “à moda de antigamente”.

Diariamente as crianças traziam de casa registos de situações interessantes, como a avó que procurou no baú o traje de gandareza com que vestiu a sua filha (mãe de uma criança), e que não encontrando o “caneco” e o lenço, depois pediu emprestado a uma outra mãe, que logo se disponibilizou, e era ver a cara de alegria da criança no dia da nosso desfile de trajes, no Carnaval, vestindo o fato que outrora a mãe quando tinha 5 anos, também vestiu num Carnaval da aldeia.

A mãe que pediu emprestadas as calças de um vizinho mais velho, que quando era mais pequenino também trajou num Carnaval “à moda antiga”.

Uma avó fez de propósito um fato de camponesa para a sua netinha de 3 anos vestir e outra avó que se preocupou em arranjar um fato regional de Peixeira da Nazaré, para a sua neta, estes e outros episódios foram engrandecendo esta caminhada do projecto em termos do aprofundamento das relações humanas, sobretudo escola-familia, família-vizinhos-amigos, comunidade educativa, assim com de valores como a partilha, a solidariedade e também o enriquecimento e valorização das tradições e património cultural.

O culminar deste projecto que foi vivido com a comunidade educativa e as crianças da EB1, no pátio exterior dos estabelecimentos de ensino, consistiu num Desfile de Trajes, em que cada criança teve de explicar aos colegas/adultos o significado do seu traje. Também a Educadora de Infância, Professoras e Auxiliares trajaram à moda antiga explicando às crianças o significado dos seus trajes, enriquecendo-nos deste modo todos, mutuamente. As imagens elucidam a vivência pedagógica


Emília Taborda (Educadora no Jardim-de-Infância das Levegadas)

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