Era mais um daqueles dias de Outono na Lousã, uma vila serrana perto de Coimbra, com a chuva a estragar os planos dos mais novos. Apesar da chuva, a Vanessa e o Rui estavam satisfeitos. É que hoje os dois irmãos iam explorar o sótão da casa do avô. Eram muitas as coisas velhas que já não serviam e a poeira era tanta que Vanessa e Rui não paravam de tossir. Foi então que o rapaz ficou admirado, ao arrastar um biombo:
- Olha, Vanessa! Que linda arca! - E era mesmo, toda envernizada e cheia de entalhes.
- Uau! Vamos ver o que tem dentro - disse de imediato o Rui. Os dois irmãos estavam tão entusiasmados, que nem precisaram de chave. Com uma chave de fendas, o Rui forçou a fechadura e abriu a arca. Mas que desilusão. No interior, só havia papéis velhos. Não havia nada que os pudesse divertir. O pior é que as cartas que a arca continha estavam numa língua que os dois irmãos não conheciam.
- Aah, meus meninos! Apanhei-vos! - Era o avô José, que os tinha surpreendido.
- Que susto, avô. Veja o que encontrámos - a Vanessa levantou-se e estendeu uma das cartas ao avô.
- Vejam só o que encontraram, meus meninos. Mas... estas cartas são do meu antepassado - disse o avô José, emocionado.
- Antepassado?! O que é isso? - perguntou o Rui.
- É um familiar meu que viveu no passado. Quem escreveu estas cartas foi o bisavô do meu avô.
A resposta do avô José deixara a Vanessa e o Rui ainda mais intrigados. Foi então que pediu aos dois para se sentarem e começou a contar a seguinte história: Estávamos no século XVIII e as tropas francesas ti-nham invadido Portugal. Foram dias de terror, que também na Lousã deixaram muita gente amedrontada. Sem dó nem piedade, os soldados saqueavam igrejas e casas particulares, ficando com grandes quantidades de ouro e prata. Foi nessa ocasião que um soldado francês de bom coração se apoderou de parte de um saque e o escondeu, para, mais tarde, o devolver à Igreja. Onde o tesouro estava escondido, ninguém sabia. Michel, o soldado francês protagonista desta história, foi um dos derrotados pelo exército luso-britânico, perto da ponte de Foz de Arouce. Preso, acabou por morrer na prisão, sem nunca devolver o ouro e a prata. Algumas semanas antes, apaixonara-se por uma linda lousanense, que acabaria por ter um filho dele. O Michel era o tal antepassado de que o avô José falara há pouco. O Rui e a Vanessa ficaram encantados por saber que também eles tinham um antepassado e francês, ainda por cima.
Os papéis que os dois irmãos tiraram da arca estavam todos espalhados pelo chão. Foi então que a Vanessa descobriu algo. Cada folha era uma peça de um puzzle. Depois de várias tentativas, lá conseguiram montar o puzzle e não é que tinham juntado as várias partes de um mapa. O mapa de um tesouro, com uma cruz assinalada. E o tesouro era nada mais nada menos do que todo aquele ouro e prata roubados pelos franceses aos portugueses.
- Mas isto fica perto do Prado - disse o avô José.
- O Prado?! O que é isso? - perguntou a Vanessa.
- É a mais antiga fábrica de papel do país. Data do séc. XVIII - respondeu o avô.
- Vamos lá. Rápido! - sugeriu o Rui, que já tinha uma pá às costas.
Chegados ao local, graças ao mapa, facilmente encontraram a rocha sob a qual estava enterrado o tesouro. Era maravilhoso. Havia de tudo, fios e anéis de ouro e até uma bandeja de prata, uma igual à que fora roubada pelos franceses na igreja Matriz da Lousã. O Rui, a Vanessa e o avô José sabiam que aquele tesouro não lhes pertenciam, por isso, devolveram-no à Igreja.
Passados quase trezentos anos, tinha sido feita justiça. Os dois irmãos não ficaram ricos, mas tornaram-se heróis nacionais. Agora é vê-los todos vaidosos a dar entrevistas para os jornais e para a televisão.
Sandra Filipa, Soraia Fernandes e Pedro Martins (Escola das Matas - Serpins)
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