Este é o primeiro de novos contos originais escritos pelos alunos do 4.º A da EB1 com JI de Santa Rita. Ao longo dos próximos dias publicaremos os restantes. Para já, fica este primeiro texto da autoria de Nádia Tomás e Ana Rita Carvalho.
A maldição do lobo
Um conto e desenho originais de Ana Rita
Simões Carvalho
e Nádia
Alexandra da Cruz Tomás
4.º A -
EB1 com JI de Santa Rita - Lousã
Era uma vez um menino que vivia sozinho nos
bosques. Há muito que tinha perdido os pais e, por isso, aprendera a tomar
conta de si próprio. Para se alimentar, colhia frutos nos bosques que só ele
conhecia e que estavam bem escondidinhos nos lugares mais secretos da floresta.
Um dia, a caminho de casa, o menino chamado João apanhou um valente susto:
encontrou um lobo. Cheio de medo, desatou a fugir. Mais adiante avistou umas
ruínas e escondeu-se nelas como pôde.
O lobo não teve dificuldade em encontrá-lo e os
dois ficaram frente a frente. Foi então que o João se apercebeu de que, afinal,
o lobo não era tão mau como parecia. Os dois tornaram-se amigos e o João passou
a visitar regularmente o animal.
Os dias sucederam-se e, ao fim de vários luares,
um cavaleiro passou pelo bosque e viu o menino frente a frente com o lobo.
Decidiu ajudá-lo, pensando que o menino estivesse em perigo. O cavaleiro agarrou
no menino pelo braço, pô-lo no cavalo e seguiu em frente. O rapazito bem quis
explicar ao cavaleiro que aquele lobo não era mau, mas ele não o deixou falar,
recomendando-lhe descanso.
E foram a galopar em direção ao reino do
cavaleiro.
- Como te chamas? – perguntou o cavaleiro.
- Eu chamo-me João e tu?
- O meu nome é Ruben. O que fazias sozinho na
floresta? – quis saber o cavaleiro.
- Sempre lá vivi. Há muito que os meus pais
morreram. Aprendi a governar-me sem a ajuda de nenhum adulto.
O menino
João foi dormir para casa do cavaleiro, onde também viviam a sua mulher e os
seus três filhos. O João adaptou-se tão bem àquela família que, ao fim de
alguns dias, todos perceberam que o melhor seria adotar o rapazito.
O cavaleiro, por sua vez, também guardava uma
tristeza no coração: há muito que perdera o seu irmão. Nunca soube se morrera
ou se ainda era vivo. Simplesmente desaparecera.
O tempo passou, mas o João não se esquecera do
seu primeiro lar: a floresta. Além disso, nos seus sonhos, o lobo aparecia
vezes sem fim, como que a pedir-lhe para voltar aos bosques. O cavaleiro
apercebeu-se de que algo não ia bem com o João e, por isso, certa manhã,
resolveu levar o menino a dar um passeio a cavalo. O João quis rever a floresta
onde tinha vivido. Ao passar na casa velha onde tinha vivido, João sentiu a
presença do lobo, mas não o viu. João imaginou que o lobo não lhe tivesse
aparecido com receio do cavaleiro.
- Sentes-te mais feliz por teres regressado à
floresta? – perguntou o cavaleiro.
- Sim… - respondeu timidamente o rapaz.
Na verdade, havia muita tristeza no seu
coração. Por um lado, estava feliz por ter regressado à floresta, mas o que ele
realmente queria era estar com o seu amigo lobo. Quando se conheceram,
prometeram um ao outro que ninguém poderia saber da sua amizade.
O cavaleiro e o João regressaram a casa, mas
algo tinha mudado no rapaz. Ele estava menos triste. Nas noites que se seguiram,
João voltou a ter o mesmo sonho. Desta vez brincava com o lobo, mas quanto mais
brincava com ele, menos ele se parecia com um lobo.
Na manhã seguinte, o menino acordou
sobressaltado. O cavaleiro veio logo ter com ele.
- O que se passa contigo, João?
- Tive um sonho com o lobo da floresta. Estava
a brincar com ele e, à medida que falávamos, as suas feições foram mudando, até
ele se transformar num homem…
- Um homem parecido comigo? – perguntou o
cavaleiro.
- Sim, mas diferente. Enquanto tu tens olhos azuis,
o homem que aparece nos meus sonhos tem olhos verdes e uma cicatriz na mão
esquerda…
O menino ainda não tinha acabado a descrição do
sonho e já o cavaleiro se tinha levantado e olhava pela janela na direção da
floresta.
- É o meu irmão… - repetia o cavaleiro – É o
meu irmão.
Nessa mesma manhã, o cavaleiro e o João
regressaram à floresta e de lá não saíram até terem encontrado o lobo com que o
João tinha brincado. Assim ficaram a saber que o lobo era afinal o irmão do
cavaleiro e pai do João. Fora enfeitiçado ao picar a mão esquerda numa roseira
amaldiçoada. Ainda era visível a cicatriz. Não se sabe se a maldição algum dia
acabou. O que se sabe é que o João, o cavaleiro (que era seu tio, afinal) e o
lobo viveram felizes até ao fim das suas vidas.